quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Análise de livro - curista Inácia

Este livro foi tema do vestibular da UFRN desses últimos dois anos, por essa razão decidi estudar um pouco mais e fazer sua análise haja vista que desde muito tempo tenho admiração por esse romance pertencente a um gênero intermediário entre romance e livro de contos. Nele o narrador se faz sentir pelo discurso indireto construído em frases curtas, incisivas e quase sempre em períodos simples. Narrado em 3ª pessoa, possui treze capítulos até certo ponto autônomos, mas que se ligam pela repetição de alguns motivos e temas como a paisagem árida, a descrição do comportamento humano como de um animal e vice-versa, os pensamentos fragmentados das personagens e seu consequente problema de linguagem.
No capítulo 1, mudanças, fala da retirada de uma família fugindo da seca. Neste capítulo temos a descrição da terra árida e do sofrimento da família. No capítulo 2, Fabiano, mostra o homem embrutecido, mas capaz de analisar a si próprio e chega a conclusão de que não passa de um bicho. No capítulo 3, cadeia, Fabiano é preso sem motivo e desta vez não tem mais coragem de sonhar com um futuro melhor. No capítulo 4, Sinhá Vitória, personagem que melhor articula palavras e expressões e a que mais tem tempo para pensar. No capítulo 5, o menino mais novo, possui um ideal na vida que é identificar-se com o pai. No capítulo 6, o menino mais velho, tinha um vocabulário minguado, valia-se de exclamações e de gestos, seu ideal era ter um amigo. No capítulo 7, inverno, descrição de uma noite de inverno que inunda tudo, mas eles sabiam que em pouco tempo a seca tomaria conta de suas vidas outra vez. No capítulo 8, festa, é um dos mais melancólicos capítulos do livro, quando as personagens centrais da história, em contato com outras pessoas sentem-se mais humilhadas, mesquinhas e até mesmo ridículas. No capítulo 9, baleia, relata a morte da cachorra que era mais humanizada do que os próprios seres humanos. No capítulo 10, contas, ao sentir-se roubado pelo patrão, Fabiano sente revolta, descrença e resignação. No capítulo 11, o soldado amarelo, fisicamento é menos forte que Fabiano, moralmente é uma pessoa corrupta enquanto que Fabiano é honesto, contudo é por ele respeitado e temido por ocupar o lugar do governo. No capítulo 12, o mundo coberto de penas, a seca está de volta prenunciando miséria e sofrimento; Fabiano faz um resumo das desgraças que têm marcado sua vida, o seu problema é se livrar do sentimento de culpa por ter matado Baleia e fugir de novo. No último capítulo, fuga, continua a análise de Fabiano a respeito da vida e reflete junto a sua mulher que, pela primeira vez lhe transmite paz e esperança por algum tempo. E numa mistura de sonhos, descrenças e frustrações termina o livro.
Graciliano tenta transmitir uma visão amarga da vida dos retirantes: começa por uma fuga e acaba por outra. percebemos no romance a descrição de dois mundos: o de Fabiano e o composto pela sociedade; o que parece ser importante para o autor é denunciar a desigualdade entre os homens, a opressão social e a injustiça. Nesta obra está implícita a crítica social a toda pobreza do sertão nordestino, que atinge uma boa parcela da população e que acaba por prejudicar todo o país impedindo maiores desenvolvimentos. O título da obra já nos transmite a mensagem: "Vidas se opõem a Secas", pois a primeira tem sentido de abundância, enquanto, a segunda, de vazio, configurando uma oposição de ideias resultando em uma construção de sentido ilógico. Além disso, denotativamente o adjetivo "secas" se refere a "vidas", e , dessa forma teria o sentido de que a família sofre com a seca. Por outro lado, conotativamente, pode-se relacionar aquele adjetivo a uma vida privada, miserável.
É um livro que mostra um conhecimento profundo sobre a realidade do ser humano em uma determinada época e que ainda se mostra presente, embora distintamente, no Brasil contemporâneo, apesar dos avanços que hora já conseguimos.

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