Minhas aulas por aí, me permitem conhecer pessoas iluminadas, carinhosas e com grande experiência de vida. Pessoas estas, que a cada dia respeito mais.
Segue divagações de uma menina/mulher que conheci nessas minhas andanças. Amiga, que Deus me deu. Não sei como nos aproximamos, mas agora não quero mais deixá-la ir.
"Estive pensando... Ontem a aula, mesmo
estando entre os muros da escola, transbordou de maneira surpreendente daquele
cubículo quase sem abertura para o mundo lá fora. Ontem, nos foi proposto
enxergarmos a emoção presente nas entrelinhas do texto da Mestra Clarisse
Massa. Ali, enquanto sons e cheiros nos acompanhavam uma das pessoas que mais
admiro nos instigou a pensar principalmente sobre qual o nosso papel como
futuros “produtores de gente”. Questões como: Será que estamos realmente
preparados para transbordar esses muros? Será que estamos desencantados e
tristes, ansiando por uma futura aposentadoria? Quem são os nossos alunos?
Quais os seus sonhos? Como iremos avaliá-los? E porque avaliar o “outro” sob os
nossos próprios critérios? Levar o cotidiano do aluno para a sala de aula será
mesmo uma perca de tempo? Como salienta Piaget, o interesse do aluno depende da
significação que o conceito pode lhe despertar. “Interesse”. Talvez essa seja a
abertura da gaiola: Levar o aluno a interiorizar o que estão vivenciando em
sala e dar-lhes asas para que possam arquitetar seu primeiro voo. Será que eles
são mesmo obrigados a receberem “pacotes-verdades” sem que levem em
consideração suas subjetividades? A sala de aula é na verdade um lugar de
trocas culturais, de anseios, de rememorar pequenos “nadas” que fazem uma
grande diferença. Mas como considerar cada um dos meus alunos se estamos em uma
verdadeira sociedade do controle, como saliente, Foucault? Como pensar e
entender cada cultura, se a disciplina e o normal é o que impera? Mas afinal, o
que é normal diante de tantas diferenças? E como fazer com que meus alunos se
percebam seres críticos, ativos e pensantes? Como levá-los a verem-se
protagonistas da sua própria educação? Como dar voz ao silêncio ensurdecedor do
aluno que no canto da sala, aparenta estar em um mundo paralelo? REGRAS? Certo,
podemos sim usá-las, mas o que são regras? E até que ponto elas atendem as
expectativas do meu aluno e da comunidade que ele faz parte? Será que elas não
atendem somente aos meus interesses ou ao interesse do “sistema”? Qual o
verdadeiro papel do professor? O que estamos construindo aqui no chamado ensino
superior? Somos superiores mesmo? Será que por muitas vezes não nos comportamos
do mesmo modo que os nossos alunos? Quantas vezes cobramos do professor uma
nota, esses números que nos classificam como bons ou ruins e criticamos tanto o
ensino caduco que ainda mede o aluno por estatísticas, números vazios? A aula
me trouxe à tona a imagem da gaiola vazia. Imagem comovente? Talvez, para
muitos não. Mas se pensarmos que a gaiola vazia representa a maneira como os
alunos se sentem mais gente, não muda a percepção do “ver” e “sentir”? Estar
trancafiado em fila ouvindo o professor será mesmo o certo e final feliz?
Estive pensando que talvez o transbordamento da sala de aula, o sair dos muros
não seria realmente o final que tanto almejamos, mas que não somos levados a
buscá-lo. Estive pensando e acho que vou continuar pensando por muito tempo..."
Jardelly Lhuana
Inquietações de uma noite em 02/06/2014.